- Pai...
- ...
- Pai...
- ...
- Pai, acorda...
- Que?
- Levanta, pai... Tá na hora...
- Hora de que?
- De levantar! Temos que ir comprar ingresso pro jogo do Galo.
- Filho, são 4 horas da manhã.
- Eu sei, pai. Mas o senhor prometeu.
-
Não dá mais, filho. Pra comprar ingresso, a gente tem que acordar mais
cedo. Já são 4 horas. Deveríamos tem acordado às 3 horas...
- Mas às vezes a gente consegue...
- Filho, já devem ter umas 50 pessoas na fila. Os ingressos não vai dar nem pra eles.
- Pai, você prometeu.
- Eu sei que prometi, mas não vai dar...
-
Mas pai, eu juntei minha mesada de três meses para conseguir comprar
meu ingresso. O senhor nem precisa gastar o seu dinheiro com isso. Aí
quem sabe a gente não compra de cambista lá?
-
Filho, a sua mesada de três meses daria para comprar o ingresso mais
barato, mas esses ingressos ficam com a torcida organizada, que só Deus
sabe como que eles compram. E os cambistas hoje estão aproveitando os
preços altos para explorar mais ainda.
- E se o senhor fizer o sócio torcedor?
-
Filho, vai dormir. Isso aí não tem nem condição de discutirmos. Com o
tanto de imposto que seu pai paga, mais escola, plano de saúde, contas
de água, luz, telefone, internet e supermercado que tem que fazer não
tenho condição de dar meio salário mínimo para sócio torcedor.
- Esse eu sei que é impossível, pai. Tô falando do outro, que é baratinho e dá preferência de compra.
-
Filho, com a torcida do Galo, isso aí é pagar pra enfrentar fila. E
outra, no meu caso, teria que pagar dois planos de sócios para te levar.
Infelizmente, somando o sócio torcedor com os valores absurdos dos
ingressos, não dá pra irmos.
- Mas pai, eu queria tanto ir no jogo...
-
Eu sei, mas não dá. Quem sabe no Campeonato Mineiro do ano que vem,
quando os ingressos são mais baratos e a procura é menor. Com esses
valores e com essa procura, infelizmente, não dá.
- Tá.
- Ei, não chore... Um dia você vai conhecer o estádio.
-
Não é isso, pai. É porque não aceito. Sempre ouvi o senhor falar que o
Galo é o time do povo. Que é o time da massa, que sempre aceitou todo
mundo, sem discriminar torcedores pela cor da pele, classe social ou
qualquer coisa. E hoje só vai gente com dinheiro...
- Filho, infelizmente hoje é assim. Ano que vem a gente vai e você conhece o estádio.
- Tá bom.
- Boa noite, filho.
- Boa noite, pai.
E ambos foram dormir, sonhando com o dia que conseguiriam ir ao estádio juntos pela primeira vez.
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