- Mãe...
- Oi, filho.
- Corre aqui mãe...
- O que foi?
- Corre, ajuda o pai...
- Que foi menino...
- Ah lá! O pai tá chorando...
- Ah, que susto! Achei que tinha acontecido algo.
- Como assim, mãe? O pai tá chorando e você tá aí tranqüila...
- Filho, o Galo ganhou.
- E daí? O jogo acabou e o pai correu e me abraçou e começou a chorar...
- Filho, vem cá. Deixa eu te contar uma coisa. A competição que o Galo está disputando é difícil. O jogo foi difícil, apertado.
- Eu sei... mas o Galo ganhou!
- Sim, filho. Mas existe muita coisa por trás disso. O pessoal que comenta futebol em São Paulo falou muita coisa e desmereceu nosso time. Tava engasgado sabe...
- Ah não mãe, você não vai chorar também não né? Já tá com olho cheio d’água...
- Não, filho, vou não.
- Que bom. Já basta o pai.
- É porque já passamos muita coisa, sabe? Sabia que seu pai estava no jogo contra o São Paulo no dia 05 de março de 1978?
- O dia que o Galo perdeu nos pênaltis?
- Sim.
- Ah, eu vi na internet.
- Pois é. Seu pai estava lá e eu também. Foi difícil demais aquele dia. Ganhamos todos os jogos e não fomos campeões... A dor que nós sentimos aquele dia, não tem explicação. O São Paulo sempre esteve atravessado na garganta da gente...
- Ah não, mãe, o olho tá enchendo d’água de novo...
- Tá passando, filho... mas olha, eliminá-los de uma competição é muito bom... Dá uma sensação de vingança...
- É, o pai tava dizendo isso durante o jogo...
- Pois é... E sofremos tanto durante esses anos. Muitas humilhações...
- Mãe, a senhora tá chorando...
- É filho, to sim... É porque já passei por coisas com esse time que você nem imagina. Mas pronto, ó! Passou... e me conta, o que seu pai disse quando te abraçou?
- Nada. Apenas chorou... até molhou a camisa, olha... por isso te chamei.
- Filho, faz assim. Vai lá e abraça seu pai igualzinho ele fez com você. E fala assim “Obrigado pai, por me fazer atleticano”.
- Ah mãe, vou ficar com vergonha...
- Vergonha nada. Vergonha é roubar e fazer algo errado.
- Tá bom.
E aquela criança correu até o pai, o chamou e abraçou bem forte, dizendo ao seu ouvido
“Pai, obrigado por me fazer atleticano”.
O pai não se conteve e chorou mais ainda. A mãe chorou vendo isso de longe. E agora, aquela criança também chorava.
Para eles o que mais importava era a união.
E que o Galo tinha vencido.
Guilherme Cunha
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