domingo, 12 de maio de 2013

Família Alvinegra

- Mãe...

- Oi, filho.

- Corre aqui mãe...

- O que foi?

- Corre, ajuda o pai...

- Que foi menino...

- Ah lá! O pai tá chorando...

- Ah, que susto! Achei que tinha acontecido algo.

- Como assim, mãe? O pai tá chorando e você tá aí tranqüila...

- Filho, o Galo ganhou.

- E daí? O jogo acabou e o pai correu e me abraçou e começou a chorar...

- Filho, vem cá. Deixa eu te contar uma coisa. A competição que o Galo está disputando é difícil. O jogo foi difícil, apertado.

- Eu sei... mas o Galo ganhou!

- Sim, filho. Mas existe muita coisa por trás disso. O pessoal que comenta futebol em São Paulo falou muita coisa e desmereceu nosso time. Tava engasgado sabe...

- Ah não mãe, você não vai chorar também não né? Já tá com olho cheio d’água...

- Não, filho, vou não.

- Que bom. Já basta o pai.

- É porque já passamos muita coisa, sabe? Sabia que seu pai estava no jogo contra o São Paulo no dia 05 de março de 1978?

- O dia que o Galo perdeu nos pênaltis?

- Sim.

- Ah, eu vi na internet.

- Pois é. Seu pai estava lá e eu também. Foi difícil demais aquele dia. Ganhamos todos os jogos e não fomos campeões... A dor que nós sentimos aquele dia, não tem explicação. O São Paulo sempre esteve atravessado na garganta da gente...

- Ah não, mãe, o olho tá enchendo d’água de novo...

- Tá passando, filho... mas olha, eliminá-los de uma competição é muito bom... Dá uma sensação de vingança...

- É, o pai tava dizendo isso durante o jogo...

- Pois é... E sofremos tanto durante esses anos. Muitas humilhações...

- Mãe, a senhora tá chorando...

- É filho, to sim... É porque já passei por coisas com esse time que você nem imagina. Mas pronto, ó! Passou... e me conta, o que seu pai disse quando te abraçou?

- Nada. Apenas chorou... até molhou a camisa, olha... por isso te chamei.

- Filho, faz assim. Vai lá e abraça seu pai igualzinho ele fez com você. E fala assim “Obrigado pai, por me fazer atleticano”.

- Ah mãe, vou ficar com vergonha...

- Vergonha nada. Vergonha é roubar e fazer algo errado.

- Tá bom.

E aquela criança correu até o pai, o chamou e abraçou bem forte, dizendo ao seu ouvido

“Pai, obrigado por me fazer atleticano”.

O pai não se conteve e chorou mais ainda. A mãe chorou vendo isso de longe. E agora, aquela criança também chorava.

Para eles o que mais importava era a união.

E que o Galo tinha vencido.





Guilherme Cunha
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