- Mãe, tem certeza de que nós estamos no lugar certo?
- Tenho sim.
- Sei não, viu? Aqui tá estranho, mãe.
- Porque diz isso?
- Uai mãe, nem parece o Mineirão que a senhora e o pai
sempre falavam pra mim.
- Mas agora é o novo Mineirão, filha.
- Mas tá estranho.
- O estádio reformou pra Copa. Trocaram as cadeiras, a
grama, trocaram tudo. O estádio é novo.
- Trocaram a torcida também?
- Não, essa é a torcida do Galo.
- Uai, a senhora não disse que a torcida do Galo cantava o
jogo inteiro?
- Disse sim, filha.
- E porque eles não estão cantando?
- Boa pergunta.
- Nem parece ser a torcida do Galo que meu irmão fala.
- É mesmo filha, não estou entendendo.
- O pai sempre chegava rouco do estádio, num era?
- Era sim, filha.
- Se ele estivesse vivo, brigaria com esse pessoal que não canta,
né?
- Provavelmente, filha.
- Se meu irmão estivesse vivo, também iria brigar...
- Sim, filha, mas os dois já faleceram... Vamos concentrar no jogo.
- Será que eles estão cantando lá no céu?
- Filha, seu pai e seu irmão sempre cantavam. Com certeza no
céu eles estão apoiando também.
- Posso pedir pra eles cantarem, mãe?
- Melhor não. Hoje em dia esse pessoal briga por qualquer
coisa, menos em prol do time.
- Nas fotos que o pai mostrava, sempre tinha bandeiras e
faixas. Tinha até papel higiênico que o povo jogava.
- Era filha, mas isso não é culpa da torcida. Agora não pode
entrar com isso mais no novo Mineirão.
- Entendi. E porque o pessoal não canta o hino como o pai
também falava? Tá proibido no novo Mineirao também?
- Isso não é culpa do estádio, filha. Isso é a torcida
mesmo.
- E eles não cantam porque?
- Já disse que não sei.
- O pai também não dizia que a torcida apoiava o time o tempo
todo, mesmo perdendo? Porque agora que tá 0x0 tem gente vaiando, mãe?
- Isso eu também não sei. Estou com as mesmas dúvidas que você.
Olha, vamos fazer assim. Seu pai e seu irmão cantavam. Eu também canto. Você
pode cantar também. Não ligue pra eles.
- Mas eles não vão achar ruim?
- Acho que não, ainda não chegamos nesse ponto, graças a
Deus.
- Entao tá.
E elas cantaram o hino. Algumas pessoas acompanharam, outras
não.
Mas pelo menos, ninguém achou ruim.
Ainda.
Guilherme Cunha
Nenhum comentário:
Postar um comentário