segunda-feira, 15 de agosto de 2011

Entrevista: Campos, um dos maiores artilheiros da história do CAM

Nome: Cosme da Silva Campos
Idade: 58 anos 
Profissão atual: Empresário

17ºartilheiro da história do Clube Atlético Mineiro, o centroavante Campos foi revelado pelas categorias de base do clube.
Atuou no time principal nos períodos de 1970 a meados de 1972 e 1973 a 1976. Jogou 199 partidas com a camisa alvinegra, marcando 97 gols. Uma média de 0,5 gols por partida. Conquistou o Campeonato Brasileiro de 1971; a Taça Belo Horizonte de 1971 e 1972; foi vice artilheiro do brasileiro de 1972 com 14 gols; já em 1973 foi artilheiro do Campeonato Mineiro com 15 gols.

Infelizmente, ficou fora da Copa do Mundo de 1974 na Alemanha em razão de uma suspensão injusta de 6 meses. Ainda pelo Galo, conquistou a Taça Minas Gerais em 1975 e 1976 e o Campeonato Mineiro de 1976. No ano de 1975 foi convocado para a Seleção Brasileira e disputou a Copa América onde em 5 partidas, duas contra a Venezuela (em 30 de julho e 13 de agosto), duas contra a Argentina (em 06
de agosto e 16 de agosto) e contra o Perú (em 04 de outubro), marcou 2 gols. Jogou ainda pelo Nacional (AM), América (SC), Caldense (MG), Guarani, Náutico Capibaribe, São Bento (SP), América (MG), Santos Futebol Clube, Marília (SP), Portuguesa de Desportos (SP), São José (SP), Colorado (PR),
Operários (MS), Ceará e Curvelo.

Confira a entrevista exclusiva dada pelo ex jogador ao blog Portal da Massa.


 
1 – A atual geração da torcida do Atlético não sabe o quanto você representou para a história do clube. Faça uma breve apresentação, contando um pouco sobre sua passagem pelo Galo:

Nunca pensei em ser jogador profissional de futebol, mas sempre amei jogar bola. Sempre que o time do Mercado Central vinha jogar aqui, entrava para completar o time do Pedro Leopoldo, um dia, após um jogo, fui convidado para uma peneira no Atlético. Fui chamado para as categorias de base com 13 para 14 anos. Com 18 anos subi para o time principal onde fui revelado como centroavante, aos 19 anos, fui Campeão Brasileiro pelo Glorioso. Atuei no time principal nos períodos de 1970 a meados de 1972 e de 1973 a 1976. Joguei 199 partidas com a camisa alvinegra e marquei 97 gols, sou ainda hoje o 17º artilheiro da história do Clube Atlético Mineiro, o que é para mim uma grande honra. Conquistei ainda pelo Galo a Taça Belo Horizonte de 1971 e 1972; já em 1973 fui artilheiro do campeonato mineiro com 15 gols, e conquistei a Taça Minas Gerais em 1975 e 1976, além do Campeonato Mineiro de 1976. Em 1975 como jogador do Atlético, fui convocado para a Seleção Brasileira e disputei a Copa América onde em 5 partidas, marquei 2 gols.

2 – Qual foi o período em que você atingiu o auge de sua carreira, fazendo-o um dos melhores da posição no país?

Em 1971 aos 19 anos fui campeão Brasileiro pelo Atlético, já em meados de 1972 fui para o Nacional de Manaus, onde ganhei maior projeção, terminei o Campeonato Brasileiro como vice-artilheiro, com 14 gols, sem dúvidas foi o auge, em razão da minha pouca idade. Voltei para o Galo no início de 1973.

3 – Qual foi sua maior decepção como jogador?

Sem dúvidas os 6 meses de suspensão injusta pelo doping e a impossibilidade de disputar a Copa do Mundo da Alemanha em 1974 em decorrência deste fato.

4 – Explique como foi a situação do doping, que muito se fala.

Gosto sempre de falar sobre este assunto, pois na época, a mídia não ouviu meu lado da história e nem procurou saber o que aconteceu de verdade.  Doping hoje em dia não é mais tabu, o assunto está melhor explicado e as pessoas já são mais esclarecidas; naquela época doping era sinônimo de droga. Hoje vemos casos de doping ocorrendo constantemente com atletas em diversos esportes, que retomam suas carreiras posteriormente sem problemas.
No meu caso tive muitos pontos que pesaram contra, fui o primeiro caso do futebol brasileiro, o Atlético ainda não tinha a estrutura que tem hoje, a diretoria não zelava pelos seus jogadores, não colocava o advogado do clube a disposição, como acontece hoje em dia; eu tinha apenas 20 anos e não possuía empresário, assessores, etc., mas sem dúvida, acredito que ter sido o autor de todos os gols da vitória do Atlético em cima do Vasco foi culminante.
Eu era uma grande promessa no futebol, já com passe quase carimbado para a seleção que disputaria o mundial em 1974 na Alemanha. Hoje, mais experiente e calejado pela vida, imagino que uma defesa junto à Justiça Desportiva seria simples e fácil.
O que ocorreu foi que jogo anterior no Maracanã, contra o Vasco, em 04 de novembro de 1973, levei uma joelhada e deixei o campo, pois havia sofrido um corte no lado interno da boca, tive o maxilar abalado, perdi três dentes e tive vários outros abalados. Chegando a Belo Horizonte, eu e o Dr. Haroldo Lopes da Costa, que cuidava da minha contusão, procuramos o Dr. Helvécio de Sousa, dentista. Fiz um tratamento de urgência, e para conciliar o tratamento com minha presença no time, resolvemos (eu, o Dr. Haroldo, o Dr. Helvécio e o técnico Telê Santana) que a cirurgia seria feita após o jogo de volta, no dia 19 de novembro. Durante o tratamento, tomei antiinflamatórios, antibióticos, e analgésicos, todos prescritos pela junta médica do time (Parenzine, Patomicina, Tetraciclina, Dorflex e Novalgina), nenhum destes medicamentos constava naquela época na relação dos considerados como doping.
No jogo de volta no Mineirão, em 18 de novembro de 1973, marquei os 2 gols da vitória do Galo, fui submetido ao exame anti doping. Como de costume, assinei a ficha em branco e entreguei ao Dr. Haroldo Lopes da Costa para que a preenchesse, nunca entendi porque na ficha do exame não foi declarado a medicação a que eu estava sendo submetido, uma vez que só consumi os medicamentos prescritos pelo departamento médico do clube.
Como todos sabem, o resultado indicou a presença de efedrina. Para o Dr. José Elias Murad, o problema era de simples defesa científica, pois eu havia tomado muitos comprimidos de Dorflex no dia da partida e este medicamento é derivado da efedrina.  
O caso teve inúmeros pontos obscuros, dentre eles, os prazos. Por que o jogo do dia 18 de novembro de 1973 só teve o resultado divulgado no dia 26? E por que o resultado só foi comunicado a mim e a diretoria do Atlético no dia 28? Alguns anos depois, tomei conhecimento que existia naquela época uma portaria, que recomendava que a contra prova fosse feita em uma Universidade, na época, a CBD informou que em razão do alto preço cobrado pela única do Rio que poderia fazê-lo, recorreria a um laboratório particular, de confiança deles. Meu recurso nem foi aceito, quando chegamos para protocolizado, já havia uma decisão mantendo minha suspensão, onde foi parar o direito ao contraditório e a ampla defesa?
A imprensa veio ainda com uma história de que tinha comido beterraba, e por isso minha urina estava avermelhada, não houve nada disso, desde a contusão era impossível mastigar, só ingeria coisas liquidas.
Não tive nenhum apoio da diretoria da época, não possuía instrução, não tinha um assessor, eu mesmo tive que contratar um advogado, talvez se tivesse esta estrutura por trás, as coisas pudessem ter sido bem diferentes, fui condenado pela inocência.
O único apoio que tive veio das arquibancadas, da massa atleticana que não me deixou cair e sempre me apoiou. A torcida, devo muito, e sonho um dia poder retribuir tudo que me deram!!!
Com a condenação, fiquei 6 meses suspenso e deixei de disputar a Copa do Mundo da Alemanha em 1974.  Não só recebi uma condenação injusta, mas acabei estigmatizado por algo que não cometi. A condenação foi sem dúvidas o menor dos sofrimentos que este episódio me acarretou, acabei estigmatizado e discriminado. Se tivesse sido pego por uso de droga, abaixaria a cabeça e assumiria meu erro, mas jamais usei nada disso! Pertencia a um clube, e jamais ingeri algo por conta própria. Fiquei muito tempo parado, para voltar não era a mesma coisa, o lado psicológico também pesava, mas a vida não para. Tive que lutar cada vez mais para superar, e graças a Deus, ao Telê e a torcida, consegui!

5 – Mesmo depois da aposentadoria, você continua ligado ao futebol? Como?

Sim, o futebol é minha vida, não me imagino longe. Jogo todos os finais de semana com os veteranos do Pedro Leopoldo, agencio jovens jogadores para as categorias de base de vários times em todo país e também tenho me qualificado profissionalmente para realizar meu maior sonho que é seguir a carreira de treinador de futebol.

6 – Como foi atuar na época mais marcante da história do Atlético?

Não apenas atuei em uma das fases mais marcantes do Galo, mas comecei minha carreira lá. Costumo dizer que vivi uma experiência única, pois além da Massa Atleticana que faz qualquer jogador ir além dos seus limites e ser contagiado por uma paixão insana, ainda tive a sorte de ser treinado pelo eterno mestre Telê Santana, que me deu uma grande base. Tive grandes conquistas pelo Atlético, em 73 fui artilheiro do Campeonato Mineiro com 15 gols e hoje, quase 4 décadas após sair do clube ainda ocupo uma posição de destaque na artilharia. Emociono-me com todas as recordações que guardo desta grande Nação Atleticana.

7 – Na sua época, o Galo contava com vários jogadores experientes. No começo da sua carreira, algum jogador lhe ajudou, dando conselhos?

Não. Quem me aconselhava e me acompanhava de perto era o Telê Santana. Tive todo apoio e um pouco mais dele, não apenas na parte atlética, onde ele aprimorou minhas habilidades, me deu grandes e sábios conselhos, mas principalmente na minha vida pessoal. Foi sem dúvidas uma das pessoas mais marcantes na minha carreira e na minha vida! 

8 – Por quantos times você passou? Quais foram eles?

Passei por vários times, comecei no Atlético, depois Nacional de Manaus, Guarani, Caxias (SC), Caldense (MG), Náutico Capibaribe (RE), São Bento (SP), América (MG), Santos Futebol Clube (SP), Marília (SP), Portuguesa de Desportos (SP), Ferroviária (SP), São José (SP), Colorado (PR), Operários (MS), Operário (MT), Vila Nova (GO), Ceará e Curvelo (MG), em alguns como no Galo, fui embora em 1972, mas voltei posteriormente, no Marília voltei 3 vezes.

9 – Você atingiu o nível máximo do futebol que foi chegar à seleção brasileira.  Conte-nos como foi essa experiência.

Vestir a amarelinha e ainda mais como titular, é uma emoção indescritível! Naquela época o futebol brasileiro tinha muito mais jogadores de qualidade que nos dias de hoje, a qualidade das equipes adversárias também era muito boa, o futebol era mais competitivo, na base da habilidade, a regra era diferente, não se marcava tantas faltas, foi um período muito bom! Poder marcar pela seleção então é algo que não consigo traduzir em palavras. Não me canso de rever os 2 gols que marquei, até hoje me arrepio e me emociono, é muita paixão!

10 – Falando sobre a situação atual do futebol brasileiro, você vê com bons olhos essa nova geração de jogadores, que inclui Neymar, Lucas, Ganso e vários outros?

Sou fã do Neymar, ele sem dúvidas é nossa maior promessa do futebol brasileiro! Os outros claro também são, jogam muito, e eu, como todos os brasileiros, espero que eles possam resgatar o amor à amarelinha que está um pouco perdido, com a seleção tão desacreditada.

11 – Como você avalia o trabalho de Ricardo Teixeira no comando da CBF?

Péssimo, em minha opinião, ele já deveria ter deixado o cargo há muito tempo. Quem sabe agora com as graves denúncias feitas pela rede Globo as coisas mudam!

12 – E a gestão Alexandre Kalil? O que acha?

A administração do Kalil é sem dúvidas um divisor de águas para o clube.

13 - Com a categoria base que o Galo possui, conquistando títulos como a Taça BH, você acha que a saída para essa má fase é investir nos jovens ou continuar comprando jogadores? (enviada por @predbhdza)

Para mim, as duas coisas são importantes, a base que vem se formando é essencial, e é uma receita que dá certo, o Santos já demonstrou isso; mas é um trabalho para médio e longo prazo. Para solução do problema imediato, a compra de jogadores e rescisão de outros é imprescindível. Temos graves problemas nas laterais, falta um meio de campo que arme para o André, entre outras coisas que precisam ser aprimoradas e taticamente trabalhadas. 

14 – Deixe uma mensagem ao leitor do blog Portal da Massa.

Primeiramente gostaria de agradecer ao Daniel e toda equipe do Blog, pela oportunidade, carinho, amizade, respeito e parceria! Agradeço também a Massa Atleticana por todo carinho e respeito durante todos esses anos, quero dizer que foi uma grande honra poder defender o Atlético dentro de campo, não existe torcida mais apaixonada e apaixonante! É muita paixão... uma energia que contagia de forma indescritível e insana. Sonho um dia retribuir tudo o que vocês me deram dentro de campo e me dão fora dele, e quem sabe treinar o glorioso para devolverem títulos todo esse amor!!! Vamos cobrar do novo técnico, da diretoria, afinal, o que queremos são conquistas. Aos que quiserem me seguir, meu Twitter é @Campos9_ e o Facebook http://facebook.com/9.campos
Grande abraço a todos!


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