- Vovô, vovô. Achei essa foto sua, olha!
- É verdade. Bons tempos.
- Onde era vovô?
- Era no Independência.
- Bacana. O Galo foi campeão lá né?
- É, antes de termos nosso estádio próprio jogamos por lá um tempo.
- Bacana demais. Já pesquisei na internet e vi que o Galo ficou um tempão sem perder né?
- É. Foi espetacular. Foi nessa época que o Ronaldinho jogou aqui. Ele e o Bernard. Mas tinham
vários jogadores muito bons.
- O senhor ainda se lembra do time?
- Claro. Victor, Marcos Rocha, Réver, Leonardo Silva, Júnior César. Pierre, Leandro Donizete,
Ronadinho, Tardelli, Bernard e o Jô. Esse era o titular.
- Não lembro desse Marcos Rocha, vô. Ele era bom?
- Era sim, bom jogador.
- Mas não achei muita coisa dele não.
- Ele era bom apoiador e foi eleito o melhor lateral direito do Brasil por muito tempo.
- Se ele era bom assim, o que aconteceu?
- Tinha gente que pegava no pé dele. Alguns vaiavam, outros xingavam mesmo.
- Podia xingar vô?
- É meu neto... Essa época foi antes da lei que proibiu os torcedores de assistirem os jogos
em pé e de cantarem. Nessa época, a gente cantava o tempo todo, cantando o hino e várias
músicas. Era muito bom. Mas tinha gente que ficava um pouco alterado e resolvia vaiar ou
criticar algum jogador.
- Mas porque vocês não brigavam com quem vaiava?
- E quem disse que não tinha briga? Hahahaha! Nessa época, tinha gente que entendia que por
pagar o ingresso, podia fazer o que quisesse, inclusive vaiar. Outras pessoas achavam melhor
cantar. E outras ficavam sentadas, assistindo o jogo.
- Igual é hoje né?
- É! Eu cantava, filho. Cantava muito. Mas tinha dia que eu estava um pouco sem paciência
com algum jogador e, às vezes, xingava um pouquinho.
- Eu acho que eu cantaria, vô!
- Provavelmente sim. Seu pai mesmo cantava. Mas infelizmente, quando a lei proibiu de
cantar, todos fomos obrigados a ficar calado.
- Credo vô. Mas devia ser bem legal né? Tô vendo a legenda da foto e tá escrito “Galo na Veia”.
Você ficava lá? Era legal?
- Ficava sim e era legal. Éramos pessoas que pagavam um dinheiro todo mês pro Galo.
Tínhamos ingresso para todos os jogos e alguns benefícios.
- Ah, igual o “Galo na Alma” de hoje?
- É, só que não tínhamos que colocar a digital para entrar. Era um cartão.
- Mas eu vi também que vocês eram corneteiros. O que é corneteiro?
- Corneteiro era como eram chamados as pessoas que criticavam algum jogador ou o técnico.
- E vocês eram assim?
- Não, filho. O pessoal não entendia que pessoas “corneteiras” tinham em qualquer setor
do estádio. As empresas de televisão que transmitiam os jogos, às vezes, focava muito lá.
Tínhamos até uma bateria lá que tocava sem parar em todos os jogos e não vi as pessoas
elogiando não.
- Ah legal demais. Devia ser bom né?
- É, era sim.
Neste instante, ele acordou e viu que estava sonhando que estava no futuro, 40 anos à frente.
Ficou com esse sonho na cabeça e percebeu que ele e seus amigos ficavam gastando tempo à
toa, discutindo por motivos sem sentido.
E então, resolveu que havia muito que aproveitar nos estádios e que a discussão “corneteiros”
e “corneteiros de corneteiros” não levava a lugar nenhum, pois sempre vai ter alguém pra
criticar em qualquer área, em qualquer setor.
Agora só apoiava o time. E viveu melhor assim.
Guilherme Cunha
Twitter
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